Minha mãe sempre esteve presente
nos perrengues da recente caminhada da Aninha. Nos primeiros dias de nascida,
quando eu ainda não tinha leite para alimenta-la, a avó dormiu com ela sentada no
sofá da maternidade. A única posição que acalmou o bebê. Nas cólicas e nas
crises de refluxo. Na primeira gripe e consequentemente sua primeira ida a emergência
de hospital. A vovó milagrosamente aparecia sempre nos momentos em que Ana mais
precisava. Minha mãe mora em outra cidade e em alguns momentos que ela veio nos
visitar foi coincidentemente nos que mais precisávamos do seu colo. Sei que
nunca foi coincidência. Sei o quanto
essas duas estão conectadas. E admiro tanto isso.
Acho incrível a relação das
duas. E vejo Ana respondendo a isso de uma forma especial.
Minha mãe é a única pessoa
que Ana vai para o colo imediatamente, sem estranhamentos, apesar de passar
meses sem ver. Aprendeu a engatinhar com desenvoltura e começou a andar de
verdade na casa da avó. Das cinco primeiras palavras duas foram ensinadas
pela vovó. Pombo que ela pronuncia Pom e miau complementando a musica “Atirei o
pau no gato”. A terceira foi bó ( vó) que ela falou nessa semana durante mais
uma visita da minha mãe. Semana esta que ela ficou resfriada e nervosa em razão
de mais dois dentinhos. E avó do lado entretendo, amando e sugerindo soluções
para acalma-la.
Lembro de ouvir uma senhora
que tem um neto da mesma idade de Ana. Ela falava de como gostava do neto e o
quanto admirava a mãe que a filha tinha se tornado. Porém, a única coisa que a
entristecia era que a filha não lhe tinha permitido ser avó. E por mais que ela
quisesse participar com seus conselhos de quem já tinha sido mãe, nunca
conseguiu. Um dia a filha ligou chorando porque precisou levar o bebê ao
hospital e lá como uma boa emergência que se preze já tinham furado a criança
desnecessariamente uma serie de vezes. Era um caso leve de desidratação. Com
tristeza a avó constatava que a filha só a procurou em último caso. Lembro
ainda de suas palavras: “Se me procurasse no inicio orientaria a dar bastante
água, mas agora depois de dias e já no hospital, o que eu poderia fazer”. Ali a
minha experiência não valia mais nada.
Eu , naturalmente, sempre
respeitei e busquei a presença da minha mãe nos cuidados com Ana. Nunca me
senti invadida ou pressionada. Acho que tudo se resume a como você se
posiciona diante dos acontecimentos e das pessoas. Se com tranquilidade e
respeito, dessa mesma forma também receberá. Ouço, analiso e tomo as minhas
próprias decisões de acordo com o meu jeito de maternar. Nunca desfaço do que
ela aprendeu e da sua experiência como mãe. Não há forma melhor ou pior. Apenas
diferente.
E acho que estou no caminho
certo na relação mãe e filha que prossigo vivendo e na relação neta e avó
que está se construindo. Os bons frutos são incontestáveis. Vejo o amor, o companheirismo
e a cumplicidade evoluindo em cada relação. Vejo uma parceira que antes era só
minha se tornar também essencial na vida da minha Ana. Uma parceira de
caminhada para os bons e não tão bons momentos. Como não estimular e buscar
algo assim? Como não permitir que a minha filha viva esse amor?
Amor de vó.
Casa de vó. Cheiro de vó. Lembrança pra toda vida que não negarei a minha filha. Seguirei realizando as minhas escolhas, respeitando a experiência e as diferenças. Sim. Acho que nesse quesito serei um bom exemplo para Ana. Espero sinceramente também colher incontestáveis frutos dessa semente. E um dia viver essa relação de amor com os meus netos.